Elefantes me mordam!

O que nos leva é uma impressão forte de que só na África - berço da humanidade, financiadora de muito do progresso dos outros continentes - só lá veremos a real dimensão da necessidade de respeito ao ser humano. (Verdade? Mentira? Piegas? Comenta, vai!)

domingo, fevereiro 04, 2007

Siyabonga



Aquele guitarrista em Maputo nao merecia melhor sorte que tocar em um bar semi-vazio na capital de Mocambique? Talvez esta seja sua melhor sorte. O guia da casa-museu em Durban, estudado e conhecedor da lingua e da cultura zulus, nao merecia melhor sorte que explicar coisas a turistas que nao lhe entendem? Talvez esta seja sua melhor sorte. O frentista no Zimbabue, que tanto se alegrou e agradeceu por ter recebido uma gorjeta simples, nao merecia algo melhor? Talvez seja, para ele tambem, a melhor sorte que a Africa pode dar. Depois de tantos exemplos, a maior parte dos quais sequer saberemos contar na dimensao que tem, voltamos com impressoes que mudam toda hora sobre o questionamento aquele de ser o continente africano, afinal, o lugar certo para sabermos da real necessidade de respeito ao ser humano. Voltamos com a mente mais aberta para duvidas que sabendo alguma resposta, e essa eh a nossa maior sorte.

segunda-feira, janeiro 29, 2007

Aventuras gastronomicas


Dessa vez foi too much. Num "baita Scala sul-africano", como diz o Gian, pedimos a cerveja que as tribos negras tomam tradicionalmente. A mqomboh (na foto acima) - com direito a estalinho na lingua, na pronuncia correta - eh milho moido e fermentado. A "cerveja" eh servida apenas fria, nao gelada, nesta cumbuca de ceramica. O odor do que pode ser uma sopa fria de milho jah bem estragada se mistura ao cheiro da ceramica. Nada agradavel. Foram apenas tres goles. Nao deu.
Fazendo as pazes com o milho, veio uma grata surpresa: o salted corn eh vendido num saquinho no Melissa's e parece amendoim, mas tem gosto de milho. Tem gosto de doritos, mas eh naturalissimo, o proprio milho, como se fosse uma pipoca nao estourada, mas suave e saborosa. Alem do Melissa's, outras boas surpresas: Giovanni's, uma deli meio Talho Capixaba mas mais legal e menos cara, e o Willoughby & Co, um restaurante de frutos do mar onde batemos um bom papo com o sushiman de Singapura, que eh fa do Kaka.

sábado, janeiro 27, 2007

O bem e o mal de Cape Town


A chegada a Cape Town (ou Cidade do Cabo) foi supertranquila. A cidade eh uma mistura de Sao Francisco e Rio de Janeiro. Soh que com coisas como a Robben Island por perto - a visita a prisao onde o Mandela esteve preso foi emocionante. O passeio pela ilha eh guiado por um ex-preso politico, que fala de suas experiencias pessoais nos 15 anos que ficou encarceirado lah e conta um pouco da historia nebulosa do lugar. Na foto acima, ele nos mostra a cela do prisioneiro mais famoso. Deu tempo para o Gian terminar de ler o "Long Walk to Freedom" e ver ao vivo os cantinhos da prisao descritos pelo Mandela na sua biografia.
O dia hoje foi de caminhadas pela cidade, que nao se cansa de jogar na sua cara: "olha como eu sou charmosa". Fizemos um roteiro de visitas a galerias de arte e artesanato. Entre as muitas - e muito interessantes - estao a MonkeyBiz , uma ONG que vende trabalhos de artesas das townships (favelas) ao redor da cidade, a Association for Visual Arts, que a cada tres semanas apresenta os trabalhos de artistas jovens sul-africanos, e a moderninha What if the World...
Toda a beleza e modernidade da cidade trazem a lembranca o lado meio amargo disso tudo. Western Cape, onde estah localizada a Cidade do Cabo, foi a unica de todas as provincias sul-africanas onde o Partido Nacionalista, que criou e manteve o Apartheid, venceu nas eleicoes de 1994. Sorte que o resto do pais foi mais forte e elegeu o Mandela.
Amanha eh o dia de, como um dia fez o Mr. Bartolomeu, "cruzar o Cabo da Boa Esperanca", com trocadilho, por favor.

quinta-feira, janeiro 25, 2007

Farofa na casa do Bispo

Na epoca de maior repressao, a policia do apartheid na Africa do Sul usava na patrulha das "townships" - guetos criados pelo regime de segregacao racial - um veiculo blindado chamado "casspir", uma mistura de caminhao com tanque de guerra. Um deles eh atracao no Museu do Apartheid, e esta la como passado, resgate da memoria. Nem tentamos, porque nao ha como explicar para eles, que um carro muito semelhante, apelidado "caveirao", eh utilizado da mesma maneira nas favelas do Rio. Assim como os casspir, eh um carro de seguranca do aparato policial.
Na visita ao (imperdivel) Museu do Apartheid e depois ao "perdivel" bairro do Soweto (South Western Townships), nosso guia, branco e de meia idade, conta historias e a Historia desapaixonadamente. E, pensamos, talvez seja melhor assim.
O tour, enfim, em parte eh simplesmente turistico, na acepcao negativa da palavra, incluindo o fato curioso do lanche (chamado exageradamente de almoco) ter sido literalmente na entrada da casa do Bispo (Nobel da Paz) Desmond Tutu. Ai se ele chega naquela hora da Cidade do Cabo...
Falando nela, eh pra la que vamos, amanha de manha cedo, em busca de Roben Island, a prisao em que Mandela ficou quase 20 anos, vinhedos e montanhas.

quarta-feira, janeiro 24, 2007

Direito

"Quando era estudante, aprendi que a Africa do Sul era um lugar onde o Estado de Direito vigorava para todos, independentemente de condicao social. Eu acreditava e inicialmente baseei minha vida nisso. Mas minha carreira como advogado e ativista tirou a venda dos meus olhos e vi que havia uma grande diferenca entre o que aprendi em aula e o que aprendi nos tribunais. E entao passei da ideia idealistica da lei como instrumento de justica para uma visao da lei como ferramenta usada pela classe dominante para moldar a sociedade como lhe convem." (N. Mandela, "Long Walk to Freedom", autobiografia, trad. livre)

segunda-feira, janeiro 22, 2007

Tirando a barriga da miser...

Titulo politicamente incorretissimo, mas fazer o que? Ontem pegamos o carro e fomos para a parte riquinha da cidade. Queriamos ter uma noite nao-turistica. Estaciona o carro, pipoca, cinema, jantar. Arcadia eh o bairro das embaixadas e residencias de classe media alta. E aih reencontramos os brancos. Todos concentradinhos naqueles metros quadrados. Poucos negros. A maioria deles, flanelinha...


Aih esta a Church Square, na jah querida Pretoria, vista do telhado do predio onde foi julgado o Mandela.

Iracema, eh hoje! Parabens!!

domingo, janeiro 21, 2007

No Falls, no more Zim!

Mudanca contingencial de planos: nao vamos mais a Victoria Falls, la no alto do Zimbabue e fronteira com Botsuana. Eh que nao temos visto para Botsuana (diziam que se podia obter na fronteira; aqui descobrimos que nao) e com isso a viagem seria de 900km ida e volta pela mesma estrada. Entre o turismo - apenas - em Victoria e o passeio com historia e gente de Pretoria e Joanesburgo, decidimos nos dar mais tempo para estas duas cidades da Africa do Sul. Na estrada de volta, mais policiais denegrindo a imagem do Zimbabue, coitado, jah nao fosse um pais sofrido. No final nao tivemos nenhum problema, mas que eh chato procurarem diamante no carro da gente toda hora, la isso eh...
O contraste com a Africa do Sul eh grande. Passa-se a fronteira e o cenario todo muda. Muito mais riqueza. A Africa do Sul destoa dos outros aqui na metade sub-saariana.
Em Pretoria - chocantemente bonita, limpa, organizada - um brinde: o funcionario que ia apenas nos dar informacao levou para um passeio pelo antigo parlamento, onde Mandela ficou preso por alguns dias e foi julgado entre 1962 e 1964. Desde a decada de 50, o apartheid vigorou forte por decadas (caiu so por volta de 90) e agora em Pretoria, por todas as redondezas onde andamos, a ocupacao eh negra. Tudo de volta ao seu lugar.