Elefantes me mordam!

O que nos leva é uma impressão forte de que só na África - berço da humanidade, financiadora de muito do progresso dos outros continentes - só lá veremos a real dimensão da necessidade de respeito ao ser humano. (Verdade? Mentira? Piegas? Comenta, vai!)

segunda-feira, janeiro 29, 2007

Aventuras gastronomicas


Dessa vez foi too much. Num "baita Scala sul-africano", como diz o Gian, pedimos a cerveja que as tribos negras tomam tradicionalmente. A mqomboh (na foto acima) - com direito a estalinho na lingua, na pronuncia correta - eh milho moido e fermentado. A "cerveja" eh servida apenas fria, nao gelada, nesta cumbuca de ceramica. O odor do que pode ser uma sopa fria de milho jah bem estragada se mistura ao cheiro da ceramica. Nada agradavel. Foram apenas tres goles. Nao deu.
Fazendo as pazes com o milho, veio uma grata surpresa: o salted corn eh vendido num saquinho no Melissa's e parece amendoim, mas tem gosto de milho. Tem gosto de doritos, mas eh naturalissimo, o proprio milho, como se fosse uma pipoca nao estourada, mas suave e saborosa. Alem do Melissa's, outras boas surpresas: Giovanni's, uma deli meio Talho Capixaba mas mais legal e menos cara, e o Willoughby & Co, um restaurante de frutos do mar onde batemos um bom papo com o sushiman de Singapura, que eh fa do Kaka.

sábado, janeiro 27, 2007

O bem e o mal de Cape Town


A chegada a Cape Town (ou Cidade do Cabo) foi supertranquila. A cidade eh uma mistura de Sao Francisco e Rio de Janeiro. Soh que com coisas como a Robben Island por perto - a visita a prisao onde o Mandela esteve preso foi emocionante. O passeio pela ilha eh guiado por um ex-preso politico, que fala de suas experiencias pessoais nos 15 anos que ficou encarceirado lah e conta um pouco da historia nebulosa do lugar. Na foto acima, ele nos mostra a cela do prisioneiro mais famoso. Deu tempo para o Gian terminar de ler o "Long Walk to Freedom" e ver ao vivo os cantinhos da prisao descritos pelo Mandela na sua biografia.
O dia hoje foi de caminhadas pela cidade, que nao se cansa de jogar na sua cara: "olha como eu sou charmosa". Fizemos um roteiro de visitas a galerias de arte e artesanato. Entre as muitas - e muito interessantes - estao a MonkeyBiz , uma ONG que vende trabalhos de artesas das townships (favelas) ao redor da cidade, a Association for Visual Arts, que a cada tres semanas apresenta os trabalhos de artistas jovens sul-africanos, e a moderninha What if the World...
Toda a beleza e modernidade da cidade trazem a lembranca o lado meio amargo disso tudo. Western Cape, onde estah localizada a Cidade do Cabo, foi a unica de todas as provincias sul-africanas onde o Partido Nacionalista, que criou e manteve o Apartheid, venceu nas eleicoes de 1994. Sorte que o resto do pais foi mais forte e elegeu o Mandela.
Amanha eh o dia de, como um dia fez o Mr. Bartolomeu, "cruzar o Cabo da Boa Esperanca", com trocadilho, por favor.

quinta-feira, janeiro 25, 2007

Farofa na casa do Bispo

Na epoca de maior repressao, a policia do apartheid na Africa do Sul usava na patrulha das "townships" - guetos criados pelo regime de segregacao racial - um veiculo blindado chamado "casspir", uma mistura de caminhao com tanque de guerra. Um deles eh atracao no Museu do Apartheid, e esta la como passado, resgate da memoria. Nem tentamos, porque nao ha como explicar para eles, que um carro muito semelhante, apelidado "caveirao", eh utilizado da mesma maneira nas favelas do Rio. Assim como os casspir, eh um carro de seguranca do aparato policial.
Na visita ao (imperdivel) Museu do Apartheid e depois ao "perdivel" bairro do Soweto (South Western Townships), nosso guia, branco e de meia idade, conta historias e a Historia desapaixonadamente. E, pensamos, talvez seja melhor assim.
O tour, enfim, em parte eh simplesmente turistico, na acepcao negativa da palavra, incluindo o fato curioso do lanche (chamado exageradamente de almoco) ter sido literalmente na entrada da casa do Bispo (Nobel da Paz) Desmond Tutu. Ai se ele chega naquela hora da Cidade do Cabo...
Falando nela, eh pra la que vamos, amanha de manha cedo, em busca de Roben Island, a prisao em que Mandela ficou quase 20 anos, vinhedos e montanhas.

quarta-feira, janeiro 24, 2007

Direito

"Quando era estudante, aprendi que a Africa do Sul era um lugar onde o Estado de Direito vigorava para todos, independentemente de condicao social. Eu acreditava e inicialmente baseei minha vida nisso. Mas minha carreira como advogado e ativista tirou a venda dos meus olhos e vi que havia uma grande diferenca entre o que aprendi em aula e o que aprendi nos tribunais. E entao passei da ideia idealistica da lei como instrumento de justica para uma visao da lei como ferramenta usada pela classe dominante para moldar a sociedade como lhe convem." (N. Mandela, "Long Walk to Freedom", autobiografia, trad. livre)

segunda-feira, janeiro 22, 2007

Tirando a barriga da miser...

Titulo politicamente incorretissimo, mas fazer o que? Ontem pegamos o carro e fomos para a parte riquinha da cidade. Queriamos ter uma noite nao-turistica. Estaciona o carro, pipoca, cinema, jantar. Arcadia eh o bairro das embaixadas e residencias de classe media alta. E aih reencontramos os brancos. Todos concentradinhos naqueles metros quadrados. Poucos negros. A maioria deles, flanelinha...


Aih esta a Church Square, na jah querida Pretoria, vista do telhado do predio onde foi julgado o Mandela.

Iracema, eh hoje! Parabens!!

domingo, janeiro 21, 2007

No Falls, no more Zim!

Mudanca contingencial de planos: nao vamos mais a Victoria Falls, la no alto do Zimbabue e fronteira com Botsuana. Eh que nao temos visto para Botsuana (diziam que se podia obter na fronteira; aqui descobrimos que nao) e com isso a viagem seria de 900km ida e volta pela mesma estrada. Entre o turismo - apenas - em Victoria e o passeio com historia e gente de Pretoria e Joanesburgo, decidimos nos dar mais tempo para estas duas cidades da Africa do Sul. Na estrada de volta, mais policiais denegrindo a imagem do Zimbabue, coitado, jah nao fosse um pais sofrido. No final nao tivemos nenhum problema, mas que eh chato procurarem diamante no carro da gente toda hora, la isso eh...
O contraste com a Africa do Sul eh grande. Passa-se a fronteira e o cenario todo muda. Muito mais riqueza. A Africa do Sul destoa dos outros aqui na metade sub-saariana.
Em Pretoria - chocantemente bonita, limpa, organizada - um brinde: o funcionario que ia apenas nos dar informacao levou para um passeio pelo antigo parlamento, onde Mandela ficou preso por alguns dias e foi julgado entre 1962 e 1964. Desde a decada de 50, o apartheid vigorou forte por decadas (caiu so por volta de 90) e agora em Pretoria, por todas as redondezas onde andamos, a ocupacao eh negra. Tudo de volta ao seu lugar.

sexta-feira, janeiro 19, 2007

A ruina do homem

"Ele estah no poder ha 27 anos", nos contava uma senhora que trabalha num hotel praticamente as moscas em Birchenough Bridge. Queriamos saber mais daquele cuja foto eh exposta em todos os estabelecimentos comerciais do pais. "Ele pinta o cabelo, eh bem mais velho do que aparenta" acrescenta a senhora. " Deixar o poder? Soh quando morrer", diz, emendando uma gargalhada. Ela nao votou nele. Nao estava entre os 100% de eleitores do Zimbabue que votaram em Robert Mugabe nas ultimas "eleicoes". O principal opositor politico, diz ela, eh branco, um dos menos de 3% que habitam o pais. " E ele odeia branco", acrescenta a nossa entrevistada em voz baixa.

Nao somos fazendeiros, mas tambem temos sentido o odio do homem. Na enstrada de 300 quilometros que liga Mutare a Masvingo fomos parados tres vezes pela policia. A primeira, por excesso de velocidade. O policial apontou pequenas casas atras de arvores para dizer que em area construida o limite de velocidade era de 60 km/h. "Mas, senhor, como vamos saber? Nao ha placas..." O proprio oficial admitiu que "muitas foram vandalizadas" Pediu propina. Eu disse que queriamos pagar o que deviamos. "As 14hs no tribunal estah bom para voces?", perguntou ele. Eu disse "ok..." Minutos depois pediu que voltassemos para o carro. Mais alguns e enviou um ajudante para dizer que "podiamos seguir viagem".

Na segunda parada o policial revistou o carro a procura de diamantes. Ja haviam tentado nos vender diamantes em Mutare. O pais estah tao caotico que a unica explicacao para a presenca de dois brancos com um carro com placa sul-africana no pais eh o comercio ilegal de diamantes. O policial sentou no banco de tras para remexer nossas coisas e parou para ler o jornal que levavamos, displiscentemente. Tirei lentamente o jornal da mao dele. Ele pegou outro. Fiz de novo. " Ok. Parece que voces estao limpos. But could you buy me a drink?" Mais uma vez "NAO!".

Segue viagem. A terceira parada foi so para saber aonde iamos e o que faziamos no Zimbabue. Assim como no Brasil, a cara dos interlocutores eh sempre de interrogacao. "Ferias? No Zimbabue?"

Agora estou aqui esperando o Gian voltar da visita aos "Great Zimbabwe National Monuments". Antes podia-se dizer simplesmente "ruinas". Agora esta palavra significa preconceito dos brancos contra as antigas civilizacoes negras. Na recepcao dos National Monuments, nao se aceita national currency. Voce paga em dolares diretamente ao governo de Mugabe. A 500m daqui, criancas voltam do colegio de uniformes, mas descalcas.

Um jornal que circula em quase todo o sul da Africa traz uma materia sobre os paises que fazem headhunting dos fazendeiros brancos expulsos do Zimbabue. Falando no "Mail&Guardian", seu dono, zimbabuense, vem enfrentando problemas desde que o governo do Zimbabue decidiu nao renovar seu passaporte. O jornal, coincidentemente, eh um dos poucos a criticar o governo e, obvio, nao circula por aqui.

Bulawayo eh a terceira cidade que visitamos no pais. Eh a terceira tambem cuja principal rua, que vai de norte a sul, chama-se Robert Mugabe.

quinta-feira, janeiro 18, 2007

So... How is Ronaldinho?

As coisas no Zimbabwe comecaram tao complicadas que seria mais facil a Julia saber mesmo responder como anda o Ronaldinho - pergunta feita, alias, por 11 dentre 10 cidadaos africanos, tao-logo ficam sabendo que somos brasileiros. Na fronteira, mais formularios que num balcao do INSS. Casa de cambio, banco, centro de informacoes, tudo fecha cedo. A taxa de cambio oficial, se a usassemos, faria o hotel custar 250 dolares/dia. O teatro ao lado - o unico aqui de Mutare - fechou para reformas (precisamos voltar em marco). O cinema passa dois filmes holywoodianos de sessao da tarde. Toalha, ahnn, tem... so que nao secaram ainda, entende? Precisamos trocar dolares urgentemente (senao, nem jantar sairia barato). Aih vai Julia, carioca, 30 anos de praia, pergunta daqui, explica dali... Lembram o Brasil da decada de 80, em que se fazia compras no dia do pagamento e muita gente estocava em casa sal e acucar porque o preco de repente estourava? A mesma pessoa que estava dando informacao na rua pediu que o acompanhassemos, fomos na empresa dele ali perto e, num piscar de olhos, 100 dolares americanos sao 280 mil dolares zimbabuenses (seriam apenas 25 mil se fosse no cambio oficial). Incluida no preco, uma explicacao de pratica economica em tempos de crise, como o fato de estarem todos esperando o proximo anuncio de pacote economico (havera uma Zelia, um Bresser, um Funaro zimbabuense?...) A despeito disso tudo, continuamos, como acontecia em Mocambique, em terra de gente simpatica e disposta a ajudar. E a sensacao de inseguranca ainda estamos guardando para usar so na volta ao Brasil...

terça-feira, janeiro 16, 2007

A logica do cafe

Volta e meia alguma coisa mostra que Mocambique parece o Brasil uns quarenta, cinquenta anos atras. Num banco em Tofo, onde fomos trocar dinheiro, assim como em quase todos os lugares, formularios, muitos formularios. Na parede do banco, um papel em letras "antigas" dizendo a razao social, quantos empregados, horario de funcionamento... tudo muito semelhante aos antigos formularios-padrao mandados fazer pelo Ministro do Trabalho naquele Brasil antigo. Por onde se passa, muita gente humilde, simpatica, disposta a ajudar. Aquele Brasil.
Mocambique viveu mais de 10 anos de guerrilha ate a independencia de Portugal, depois mais 25 anos de guerra interna. Ate a paz, ha meros 12 anos atras, toda a infraestrutura foi ou abandonada, ou destruida, ou nao foi feita mesmo. Quem entra no pais de carro, vindo da Africa do Sul, ve milhares de quilometros quadrados de terras nao exploradas, exceto por agricultura de subsistencia meio escondida e muito pobre. Na capital Maputo, o cenario dos predios do centro eh de guerra recem acabada. No entanto, zero de inseguranca. Lembra de novo o Brasil, aquele que nao existe mais.
Uma coisa diferente, aqui, eh a logica: perguntamos se o chalet (de frente pro mar, na Praia do Tofo) incluia o cafe. "Cafe? Siiim...", exclamou-se ele, e entao ficamos satisfeitos. Uns 10 minutos depois chegou na mesinha de fora uma termica, xicaras, cafe preto. Mais tarde perguntamos: amanha, entao, a que horas o cafe eh servido? "Cafe? Naaao, nao tem cafe da manha...", explicou-nos a senhora. Era aquele cafe preto da mesinha.
Na manha seguinte, cafe da manha, entao, no hotel mais proximo:
- Quanto custa?
- 30 contos.
Tomamos: mesa composta, pao, frutas, cafe, leite, cha. Na hora de pagar:
- Quanto da? 60 contos?
- Aahnn, mas os senhores, alem do cafe, comeram fruta?...
E entao ficou entendido: quando disserem cafe, eh so cafe.


A foto nao faz justica ao mar de Vilankulos. Por eles atrasamos a viagem em um dia.


Gian tomando uma fanta depois de 20 anos, na companhia dos Ronaldos e do vendedor de bebidas no centro de Vilankulos.

sábado, janeiro 13, 2007

O Índico é quentinho!

Hoje foi o primeiro banho no Oceano Índico! Moçambique tambem parece ter Nordeste brasileiro. Pelos sorrisos, pela calma das pessoas, pela descontração. Fomos muito bem recebidos pela Debora, que nos deu literalmente casa, comida e roupa lavada.
A parte curiosa: em Maputo, "cold drink" se diz "refresco". Foi isso que o policial nos pediu, mesmo depois de revistar o Gian, conferir todos os passaportes e documentos e ver que nao tinha nada de errado. Em Moçambique os policiais não pedem dinheiro apenas quando você está errado.
Ponto parágrafo para uma rápida descrição sobre as muitas qualidades de Maputo - bem mais importantes que a propina pedida sem motivo (e, claro, não dada...): a estação ferroviária feita pelo Eiffel, o mesmo da torre; as capulanas (panos lindos que as mulheres levam amarrados ao corpo como saias, ou cadeirinha de bebê); os frutos do mar; a arquitetura portuguesa pós-guerra com toques socialistas. E muuuuito mais. Moçambique resolveu acompanhar a anfitriã e nos recebeu muito bem!

E como os assuntos são muitos e o acesso à internet é pouco, vai aí uma mostra do nosso morning safari. Vimos girafas, zebras, rinocerontes, búfalos, hiena, gnus, impalas, hipopótamos, crocodilos. Os elefantes eram muitos, mas ainda não nos morderam...

sexta-feira, janeiro 12, 2007

Primeira comunhao


O Rio Little Usutu eh enfeitado por todos os campos altos e baixos da Suazilandia e tambem por uma cachoeira, na qual se pode chegar nadando ou - quando nao se pode nadar - com o corpo meio submerso as margens, a uma velocidade de dois metros por minuto, deslizando as palmas das maos nos limos, inserindo os dedos nas entrancias rochosas. Eh improvavel, mas perfeita, a comunhao de agua e pedra.

quarta-feira, janeiro 10, 2007

Ilegais na Suazilandia

Tantos brasileiros ilegais em paises mais chiques, mas foi isso que aconteceu com a gente. Chegamos no posto de controle e bum! Precisava de visto. Erro de informacao no guia de viagem e nos pensando mais uma vez em ser mandados de volta pra Africa do Sul. Mas eu fiz cara de choro e a mulher que tava atendendo pediu para esperar. Surgiu a esperanca. Ela carimbou mais uns passaportes de sul-africanos que entravam, pegou os nossos de volta, folheou-os nervosamente e mandou o que nos nao esperavamos: "Ok. Vou deixar voces entrarem, mas nao posso carimbar. Vcs tem que ir a Mbabane (capital) resolver isso. Nao deixem que ninguem veja os passaportes".
Pagamos o imposto pra entrar com o carro, entramos no carro em silencio e CRUZAMOS o portao! I-hu!! Ilegais na Suazilandia. Depois disso, como se nao bastasse tanta ilegalidade, partimos para mais duas: conseguimos fotografar a entrada da casa do Rei e compramos vinho no supermercado no fim de semana (o que eh proibido por la). O gerente nos entregou numa sacola branca, sem o logo do supermercado. Uma comedia.
Por fim, regularizamos a situacao no Ministerio do Exterior da Suazilandia, em Mbabane. Caos, burocracia, mas tudo resolvido. Saimos do pais sem sermos presos.
Os dois metidinhos que fogem dos programas "muito turisticos" quebraram a cara no primeiro dia na Suazilandia. Vimos dezenas de homens vestidos com as roupas tradicionais das tribos suazis e pensamos: "Nossa! Que coisa pra turista ver!!" Pois no dia seguinte estava no jornal toda a cobertura da principal festa suazi que acontece todo o ano: a Incwala. Perdemos porque pensamos que se tratasse de algum equivalente a show de mulatas. Tsc, tsc, tsc. Bem feito!

sábado, janeiro 06, 2007

Luta contra a Aids


A Africa do Sul comeca a se conscientizar da necessidade da prevencao a Aids. Nos foi confirmado por duas ou tres pessoas: Ainda eh muito comum a crenca de que fazer sexo com uma virgem leva `a cura da Aids - e por isso os altos indices de estupro de criancas. Na foto acima, um grafite mostra a luta de guerreiros zulus contra a doenca.
Estamos agora a caminho da Suazilandia.

sexta-feira, janeiro 05, 2007

Edificio Yacoubian

Durban eh a cidade com a maior concentracao de indianos - fora da India, claro... Foi aqui que nos instalamos no Hotel Tudor, o Edificio Yacobian da Africa do Sul (referencia a um edificio no Cairo que de tanta historia e gente rendeu um livro e um filme). Estranho o hotel, mas maravilhosa a cidade. Dois dias aqui ficaram pouco para as possibilidades que fomos vendo. Um exemplo, Victoria Market, uma especie de mercado publico indiano. Nao resistimos e tiramos foto ate - talvez principalmente - das comidas e dos temperos. Tudo muito colorido, as pessoas todas simpaticas. Um detalhe terrivel: a Julia foi ao banheiro mas tinha fila, entao ficou esperando; assim que viram - negras e indianas, velhinha inclusive - que havia uma branca na fila, cederam a vez, e ela precisou explicar que nao, nao havia necessidade da preferencia... Surpresa agradabilissima: Bat Centre, um centro de cultura com bar e vista pro Oceano Indico. Chegamos a tempo de acompanhar uma roda de poesia: pelo menos 4 talentos ali, escondidos de nos que nos escondemos tambem e achamos que estamos no centro do mundo. Muito ritmo na mistura do ingles com o zulu. Para fechar a mistura, tiveram de ouvir o som de um soneto em portugues - foi o dia em que Mario Quintana foi pouco entendido mas muito ouvido em Durban.
Antes daqui tinhamos dormido em Pietermaritzburg, uma joia de cidade e povo. Mais gente simpatica (o que quase nao aguentamos mais...). La o Tatham Museum eh imperdivel, pelo que mostra da arte zulu, mas a surpresa ficou pelo Project Gateaway, trabalho de uma ONG numa antiga prisao e que insere "no mundo globalizado" quem de outra forma morreria de fome ou AIDS.

quarta-feira, janeiro 03, 2007

O Lesoto nao nos quis

Joanesburgo ate que nos recebeu bem. Como diria o Lula, "nem parece Africa". Tomamos um cafe para despertar e o garcon educadamente se despediu perguntando como se dizia "obrigado" em portugues. Se esforcou para guardar a palavra e dize-la ao Gian, que voltava `a mesa minutos depois. Looonga estrada ate Fouriesbug. Com alguns momentos engracados. Destaque para as pancadas que o Gian dava na porta do carro procurando o cambio, que fica do outro lado nos carros de ca - assim como o volante etc, etc... Paramos para tomar uma agua numa cidade minima e uma senhora nos convidou para passar a noite na casa dela, "jantar, pelo menos", tao impressionada: "mas o que eles estao fazendo aqui?", perguntou em africaner para o dono da venda. Logo depois, nos olhou e traduziu a pergunta para o ingles.
Depois de uma noite num bed and breakfast lindo - com direito a caminhadas, por-do-sol, jantar delicioso - fomos barrados no Lesoto. Tinhamos que ter tirado o visto em Pretoria. Um dos "policiais federais" do Lesoto chegou a parar o carro quando retornavamos do posto de controle e sugerir que "a cold drink" faria com que o oficial mudasse de ideia. Tivemos que responder "we are not used to do that, sir". Veja soh! Propina no Lesoto! Estamos entao no livro de recordes como o casal que mais rapido saiu e entrou de volta na Africa do Sul. Tivemos que circundar o Lesoto e ca estamos nos em Pietermaritzburg. Num bed and breakfast administrado por lord ingles, daqueles de filme.
Coisas que jah podemos notar:
- muitos sul-africanos nao falam ingles muito bem (tem fluencia muito melhor tanto em africaner quanto em seus dialetos, como o zulu)
- aqui existe muito mais declaradamente esse negocio de duas classes: ricos sao brancos, pobre sao negros.
- nenhum branco pobre ateh agora. Ne-nhum.
- sul-africanos tambem comem arroz!